Jornalismo, Comunicação, Imprensa, Internet
Jornalismo
05-03-2019

Como a Internet transformou o jornalismo, a comunicação, o marketing e a publicidade

LUÍS PAULO RODRIGUES

A Internet foi a grande mudança, que transformou para sempre o jornalismo e as suas práticas. Há 30 anos, quando comecei a minha vida profissional como jornalista da imprensa, não havia assessores de comunicação, nem Internet, nem telemóveis. Um jornal diário era escrito todos os dias, da primeira à última página. A memória não estava no Google, mas na cabeça de cada jornalista ou, no caso dos meios de comunicação mais organizados, no arquivo da redação.

As raras notas de imprensa, quando chegavam à redação, eram um ponto de partida para uma notícia, uma entrevista ou uma reportagem. Funcionavam como fonte de informação, e não como um conteúdo pronto a ser publicado. Os jornais não se copiavam uns aos outros e tinham uma identidade própria, com conteúdos exclusivos. O vínculo entre o leitor e o seu jornal era forte e comprometido.

O tempo da informação era, por isso, previamente definido e compartimentado. Em Portugal só havia uma televisão, a RTP, com um primeiro canal generalista (cuja emissão encerrava ao princípio da madrugada, iniciando na manhã seguinte) e um segundo canal alternativo (que só funcionava ao fim da tarde e à noite). O Telejornal das 20h00 era o horário nobre da informação. As televisões privadas só apareceram na década de 1990.

No panorama radiofónico as coisas não eram muito diferentes. As rádios locais, que se multiplicaram na década de 1980 na versão pirata, estavam em vias de ser legalizadas, o que aconteceu em finais de 1989.

Nesse tempo, os jornalistas que queriam entrevistar um ministro, um presidente de Câmara ou o presidente de um clube de futebol combinavam diretamente com as pessoas a entrevistar. Só em algumas instituições mais organizadas é que tinham de passar pelo filtro da assessoria. Mesmo assim, de uma maneira geral, as assessorias eram facilitadoras da vida do jornalista.

O surgimento da Internet e a possibilidade de podermos transmitir dados por via digital foram as novidades que começaram a mudar o mundo da comunicação na década de 1990, revolucionando o jornalismo e multiplicando os agentes de comunicação produtores e emissores de informação.

Por outro lado, passamos de um modelo de comunicação em que poucos comunicavam para muitos para um modelo em que muitos comunicam para poucos. Há cada vez mais polos emissores de informação. Logo, o seu valor comercial é mais reduzido. Qualquer pessoa pode ter o seu blog ou o seu jornal. Tudo isto contribuiu para a crise da imprensa tradicional, que ficou desinstalada no meio de mudanças tão grandes e tão rápidas.

As mudanças foram tão grandes que até o tempo das notícias mudou para sempre. Atualmente, já não existe o horário nobre da informação televisiva. O horário nobre da informação passou a ser o momento em que a notícia acontece e se propaga na Internet em segundos, independentemente do lugar do mundo em que tenha ocorrido.

O jornal como veículo das novidades do dia em cada manhã também acabou. O jornal impresso chega às mãos do leitor com as notícias do dia anterior, já comentadas “online”, enquanto na rede já circulam outras notícias – as notícias do momento. É por isso que perdeu valor e tem cada vez menos procura nas bancas.

As atenções do público contemporâneo centram-se agora na torrente avassaladora das notícias do momento. No computador e, sobretudo, nessa máquina prodigiosa, que nos acompanha para todo o lado: o telemóvel.

É através do telemóvel que estamos ligados ao mundo e aos nossos amigos, e também a uma imensidão de gente estranha, com quem partilhamos informação e entretenimento nas redes sociais.

Dizem-nos que agora temos capacidade de escolha e que só consumimos a informação que queremos. Teoricamente é verdade. Mas temos a forte concorrência de um senhor chamado algoritmo. Toda a informação que recebemos nas redes é condicionada por algoritmos, os quais, baseados na nossa pegada digital, moldam o nosso comportamento social, a nossa atitude perante o mundo e o nosso padrão de consumo. E, sem darmos por isso, estamos a ler uma notícia ou a ver um anúncio de publicidade por indicação do algoritmo e não de acordo com a nossa escolha pessoal.

Aconteceram muitas mudanças ao mesmo tempo. Mesmo com o jornalismo em crise de transformação, penso que hoje temos acesso a mais informação do que tínhamos no passado. O que precisamos é de uma capacidade maior para distinguir uma notícia de um texto publicitário; uma notícia verdadeira de uma notícia falsa; uma fonte credível de uma fonte não credível. A literacia mediática é cada vez mais uma matéria que deveria ser objetivo de uma disciplina curricular em todos os graus de ensino.

A Internet eliminou fronteiras na comunicação entre pessoas, empresas, países e continentes; eliminou fronteiras entre a esfera pública e a esfera privada dos cidadãos; e proporcionou espaços de convergência entre o jornalismo, o marketing e as relações públicas que estão a mudar o exercício destas atividades profissionais, que outrora eram estanques e tinham um espaço bem definido de atuação dentro das empresas e das instituições.

Hoje, empresas e marcas socorrem-se de práticas jornalísticas para fazerem prosperar os seus negócios. Começaram a poder comunicar diretamente com os seus públicos, produzindo informação como se fossem empresas jornalísticas. Porque a informação jornalística transformou-se no melhor meio de chamar a atenção dos clientes e dos consumidores, em ações de marketing digital. Isso acontece porque as práticas jornalísticas têm um compromisso com a verdade e os consumidores atuais, mais informados e mais exigentes, querem mais transparência e menos opacidade por parte das marcas.

O reverso disso é que as empresas e as marcas deixaram de investir em publicidade nos meios de comunicação tradicionais, fazendo cair as receitas de publicidade, que é o principal meio de sustento das empresas jornalísticas. Daí a crise dos jornais e do jornalismo. Daí, também, a queda das receitas publicitárias nas rádios e nas televisões.

Cada vez mais os investimentos publicitários são feitos com rigor. E a Internet, quer seja através do Google ou das redes sociais, permite que a publicidade vá diretamente ao público que queremos atingir, monitorizando a sua reação. Isso permite gastar menos em publicidade e obter resultados muito mais fiáveis. Algo que os meios de comunicação tradicionais (imprensa, rádio e televisão) não garantem, nem nunca garantiram.



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