Comunicação Desportiva
22-06-2016

Cristiano Ronaldo, o microfone da CMTV e a comunicação da FPF

LUÍS PAULO RODRIGUES

O dia 22 de junho de 2016 fica marcado por dois momentos contraditórios envolvendo o futebolista da seleção de Portugal Cristiano Ronaldo, uma das maiores estrelas presentes na fase final do campeonato da Europa de futebol, que se realiza em França.

De manhã, ao ser interpelado por um jornalista da estação por cabo Correio da Manhã TV, durante um passeio matinal dos jogadores da seleção, Cristiano Ronaldo arrancou o microfone das mãos desse jornalista e lançou-o a um lago.

De tarde, num dos jogos mais excitantes do Euro 2016 (empate de Portugal 3-3 com a Hungria), o mesmo Cristiano Ronaldo marcou um dos golos mais belos da história do futebol e tornou-se no primeiro futebolista a marcar golos em quatro fases finais de campeonatos da Europa.

As imagens dos dois momentos correram o mundo e transformaram-se, certamente, nos assuntos mais comentados do dia, mas foi o caso do microfone atirado ao lago que demonstrou o caráter frágil e o comportamento censurável do futebolista Cristiano Ronaldo, aos olhos da opinião pública.

Fui jornalista e sou um defensor do trabalho livre, ético e responsável dos jornalistas. Da mesma forma, considero que as figuras públicas, ou as fontes de informação em geral, devem atender bem os jornalistas, com honestidade, simpatia e transparência, respondendo, ou não, às perguntas que lhe são colocadas.

Figuras públicas e jornalistas representam dois campos distintos que estão condenados a entenderem-se. As figuras públicas precisam de aparecer no espaço mediático configuradas de forma positiva e os jornalistas precisam de matéria para fazer o seu trabalho, de modo a produzirem os conteúdos para os seus meios de comunicação e, assim, ganharem a vida.

Cristiano Ronaldo pode ter razões de queixa pela forma como tem sido tratado pelos meios de comunicação do grupo Cofina, nomeadamente por questões que terão a ver com a sexualidade do futebolista português. Além disso, compreende-se que o jogador esteja sujeito a enorme pressão psicológica, sobretudo depois de uma temporada tão desgastante. Porém, isso não contribui para atenuar o seu erro, ao ter-se apoderado do instrumento de trabalho do repórter, atirando-o ao lago.

O repórter, por seu turno, aparentemente, fez o seu trabalho, sempre na procura da imagem exclusiva ou da palavra exclusiva – como é regra no sistema mediático voraz dos tempos que correm.

Independentemente disso, a verdade é que o episódio poderia ter sido evitado. Não sei ao certo em que contexto foi realizado o passeio matinal da seleção portuguesa, na manhã de um jogo decisivo. O que sei é que um evento criado para descontrair os jogadores acabou por ser palco de um ato infeliz da maior estrela da seleção portuguesa, gerando uma notícia negativa sobre o jogador e sobre Portugal.

Em minha opinião, este triste episódio só aconteceu porque, aparentemente, a assessoria de comunicação da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) não soube proteger os seus jogadores, permitindo contactos com jornalistas fora das conferências de imprensa, que são, como sabemos, os locais de excelência para o contacto com os meios de comunicação. Ora, num passeio matinal, os jornalistas só se misturaram com os jogadores porque a FPF permitiu.

Obs. Na imagem, Cristiano Ronaldo durante o emocionante jogo Hungria-Portugal, em que o empate (3-3) valeu a qualificação de Portugal para os oitavos-de-final do Euro 2016. Fotografia: Reuters

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