Pensamentos & Ideias
03-07-2012

"Não vivemos sem marcas", diz Martin Lindstrom, guru do neuromarketing

“Somos influenciados pelo sabor da comida ou pelos sons quando ainda estamos no útero. Estes sons criam-nos predisposições para certas coisas, como por exemplo música e até preferências de sabores. As marcas vão se tornando cada vez mais sofisticadas e começamos a ver como criam sons e sabores para chegarem ao útero. Assustador.”

“As marcas dão-nos uma sensação de confiança e quanto mais pressionados nos sentimentos, mais confiamos nas marcas. Hoje sabemos que os jovens ficam mais viciados em marcas quanto menor é a sua autoconfiança e pelo caminho vão comprar ainda mais. Cerca de 70% dos miúdos sentem pressão na escola para vestir as marcas certas. É como um uniforme, ou usas o cool ou não fazes parte da tribo.”

“Podemos dizer que todos achamos que somos imunes à publicidade, mas descobri – em parte porque fiz as minhas próprias experiências quando estive na desintoxicação de marcas – que não conseguimos viver sem marcas. Ainda mais importante é que quando acreditamos que somos imunes é quando estamos mais susceptíveis.”

“Ao incutir medo em todas as mensagens somos 10 vezes mais capazes de escolher qualquer oferta que haja por aí. O medo de envelhecermos, engordarmos, ficarmos sozinhos, ser impopulares, ter uns filhos falhados. A culpa é um vírus em crescimento, principalmente entre as mulheres. Como forma de remover alguma dessa culpa, as marcas oferecem “soluções” – muitas vezes soluções que não resolvem nada. A culpa pode ser desde “não sou uma boa mãe”, a ter “problemas com o meu corpo”, a “não sou uma boa mulher”. E a ideia é: compra a marca X e vais ser feliz.”

“Por exemplo, a Apple. Muitas pessoas amam a marca, é fácil de usar, tem um design incrível e é inovadora. No entanto, nos bastidores há muito mais a acontecer. Quando compras um produto da Apple ficas, de certa forma, preso. A Apple só funciona com a Apple. Só o iTunes funciona, só um staff autorizado da Apple pode abrir e mudar a bateria do teu iPod. Além disso, a marca cria uma segunda camada de necessidade, ou seja, precisamos de estar sempre a comprar o último modelo. Se não tens o iPhone 4S sentimo-nos um fracassado. Uma necessidade pode ser criada de várias maneiras.”

“Precisamos de líderes na nossa sociedade. Como já não confiamos nos políticos e as famílias reais são limitadas – a próxima geração de famílias reais são celebridades – precisamos de alguém em quem confiar, seguir e admirar para ganharmos autoconfiança.”

“Sabemos hoje que 85% das nossas decisões são tomadas inconscientemente, ou seja, feitas sem a nossa percepção. As marcas vivem nesse espaço, porque resumem-se a sentimentos.”

“Aqui ficam alguns conselhos: 1. Pagar em dinheiro. Ao pagar em dinheiro garantimos um relacionamento seguro e real com o dinheiro e dessa forma gastas menos. Na nossa experiência houve uma redução de 11%. 2. Usar o iPod (ou outro gadget parecido) com música muito alta, de preferência uma que não gostes. Isto vai ajudar a cortar o lado mais sedutor das compras e assim compras menos coisas, cerca de 19%. 3. Nunca leves as crianças às compras, elas fazem com que compres mais, um aumento de cerca de 26%. 4. Deves comer antes de ir às compras, vai fazer com que compres muito menos, não apenas comida. Reduz cerca de 22%. 5. Nunca uses um carrinho de compras, é preferível carregares as compras nos braços. Nos últimos cinco anos o tamanho dos carrinhos de compras duplicou, o que gerou um aumento de 40% nas compras.”

Martin Lindstrom, publicitário dinamarquês e guru do neuromarketing, em entrevista ao jornal "i" , 03-07-2012
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