Comunicação Política
28-05-2016

A escola pública também merece uma manifestação

LUÍS PAULO RODRIGUES

Nos últimos dias, temos assistido nos meios de comunicação portugueses a uma guerra mediática entre os que são contra e os que são a favor dos contratos de associação entre o Ministério da Educação e as escolas dos ensinos particular e cooperativo. E neste contexto, as notícias são colocadas no espaço público mediático, servindo, notoriamente, os interesses em confronto, consoante as fontes em que se baseiam. É por isso que numa hora podemos ler que o “Tribunal de Contas dá razão aos colégios na guerra com Governo” e que noutra hora lemos que a “PGR dá razão ao Governo no corte de turmas aos colégios com contrato de associação”. São notícias gerando perceções para todos os gostos.

A polémica começou quando o Governo, numa medida aparentemente lógica, decidiu interromper a assinatura de novos contratos de associação nos locais onde o sistema público de ensino tem condições para acolher os estudantes que, pagos pelo Estado, frequentam as escolas particulares. Desde então, as manifestações dos proprietários das escolas particulares sucedem-se, envolvendo professores, encarregados de educação e alunos. Segundo noticia a imprensa, neste domingo, 29 de maio, há nova manifestação, desta vez, em Lisboa.

Como consultor e analista de comunicação, constato, com surpresa, a passividade dos partidos que suportam a maioria governamental, pois limitam-se a justificar a medida do Governo, sem envolver a população nas ruas do país, como estão a fazer os defensores das escolas particulares. Ora, eu penso que cada manifestação das escolas particulares e cooperativas merecia uma manifestação em favor da escola pública, como símbolo do nosso avanço civilizacional. Porque as manifestações também podem ser positivas. E uma ação de comunicação combate-se com outra ação de comunicação.

Se o objetivo é influenciar os organismos que decidem, assim como sensibilizar a própria opinião pública, seria interessante verificar que há uma população atenta que, no exercício pleno da sua cidadania, defende a escola pública de qualidade e exige uma escola pública cada vez melhor. Neste contexto, uma cobertura mediática sobre duas visões distintas acerca da gestão da escola iria, obviamente, dividir o foco e as atenções dos meios de comunicação, retirando o efeito de uma única manifestação. Esta questão é pertinente, tanto mais que o jornalismo atualmente praticado pelos meios de comunicação, neste tempo de textos curtos, frases bombásticas e imagens espetaculares, é cada vez menos reflexivo e carecido de grandes cuidados de contextualização dos acontecimentos – o que dificulta a interpretação dos acontecimentos e das notícias. E hoje tudo se joga no espaço público mediático.

Lembro o exemplo das recentes manifestações contra e a favor do Governo brasileiro, antes da votação que decidiu a abertura do processo de destituição da Presidente Dilma Rouseff. Inicialmente, os meios de comunicação internacionais só mostravam imagens de manifestações contra o Governo. Dias depois, porém, os partidos e os movimentos sociais que apoiavam a presidente mobilizaram-se na organização de manifestações de rua e o mundo começou a ficar confuso com o que se passava no Brasil. Afinal, havia um outro país formado por brasileiros que defendiam o Governo de Dilma Rousseff e as coisas não seriam tão lineares como tinham passado inicialmente nas televisões.

Vivemos num tempo em que a informação só pode ser combatida com informação. A informação negativa contra nós combate-se com informação positiva sobre nós. Nesta sociedade da comunicação, o segredo para liderar o espaço público mediático está em ter a capacidade para tomar a iniciativa de ocupar esse espaço o mais possível. Ocupamos o espaço mediático colocando na agenda o tema pretendido, desviando o foco de um tema que não nos interessa. Ora, quem toma a iniciativa de agir e comunicar, pode conduzir o processo e definir o foco da agenda mediática.

Uma manifestação em defesa de uma escola pública em Portugal – para além de ser uma novidade no país, já que não é normalmente que as pessoas se manifestem cívica e politicamente em defesa de algo que já têm – iria, certamente, dividir o espaço mediático, criando um efeito pulverizador sobre as críticas à decisão do Governo de António Costa.
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