Internet
29-04-2016

Os taxistas contra a Uber. Uma guerra perdida

LUÍS PAULO RODRIGUES

A guerra dos taxistas contra a multinacional norte-americana Uber está ao rubro em Portugal. Demorou, como sempre acontece com quase tudo o que é novo, mas chegou. Como já se viu noutros países, e numa altura em que a inteligência artificial está prestes a conduzir automóveis autónomos, estamos perante uma guerra perdida. E ainda bem para os utilizadores da tecnologia, que são clientes e consumidores.
O problema dos taxistas é a Internet e o seu efeito simplificador do trabalho e das relações comerciais, o que é devastador para muitas atividades, em especial, as menos cerebrais. Foi com o desenvolvimento da tecnologia e, sobretudo, com a Internet que muitas profissões acabaram nos últimos anos e que muitas funções deixaram de ser necessárias para que a vida de todos nós pudesse funcionar bem e, na maioria das vezes, melhor.
Atualmente, vamos ao supermercado e pagamos as nossas compras em máquinas automáticas, sem falarmos com nenhum funcionário; andamos na auto-estrada e não precisamos de pagar na portagem; vamos de férias sem passar pelo agente de viagens; e conversamos ao telemóvel sem precisar de uma operadora telefónica. São apenas alguns exemplos de atividades que outrora implicariam postos de trabalho que agora são absolutamente dispensáveis.
Mesmo assim, não consta que os profissionais que foram vítimas da inovação tecnológica, e que tiveram de entrar num processo de reciclagem profissional, tentando novas oportunidades noutros setores de atividade, tenham vindo para a rua pedir apoios ao Governo. E os taxistas tradicionais podem participar nas mudanças em curso, reinventando serviços com valor acrescentado, que poderão prestar com o automóvel que têm hoje.
Sejamos claros, enquanto os taxistas estão parados na berma da estrada do século XX, a indústria automóvel prepara os carros autónomos, ligados à Internet e com inteligência virtual, que vão revolucionar a maneira como nos deslocamos de um lado para o outro. “Graças a esse sistema, haverá mais fluidez no trânsito, uma melhoria da segurança rodoviária, menos ruído e um uso mais eficiente do combustível”, como escreve Sara Piteira Mota, no portal "Económino Digital", num texto onde a autora esmiuça “algumas das novidades” do setor automóvel que estão a chegar ao mercado, potenciadas pela Internet (ver aqui: http://goo.gl/LvSfYc). Portanto, não estamos a falar de ficção científica.
Entretanto, nos Estados Unidos, fazem-se esforços pela regulação da tecnologia de condução autónoma, com diversas empresas de renome ligadas à indústria automóvel formando uma coligação para incentivar as autoridades a criarem um quadro legal para os novos veículos que estão para chegar. A plataforma de entendimento envolve marcas e empresas como a Ford, a Volvo Cars, a Google, a Uber e a Lyft (ver aqui: http://goo.gl/objJyO).
A verdade é que o mundo continua em mudança acelerada e a procurar soluções para enfrentar novas realidades de forma sólida e não para remendar velhas realidades sem futuro. É uma mudança em que os taxistas tradicionais também podem participar, reinventando serviços com valor acrescentado, que poderão prestar com o automóvel que têm hoje. É uma mudança que, muitas vezes, é para melhor, em favor dos consumidores ou utilizadores da tecnologia, quando passam a ter serviços melhores e mais baratos, como acontece com o transporte urbano em carro ligeiro.
O que é preciso é que venham esses serviços alternativos que não custam tanto dinheiro a quem paga. E, no caso português, que o Governo pense duas vezes antes de aprovar a distribuição de dinheiro público para alimentar artificialmente funções falidas ou sem futuro no modelo em que funcionam.
Recentemente, alguém do Governo falou que estariam disponíveis 17 milhões de euros para os taxistas portugueses – que são, afinal, os mesmos que, atropelando a ética profissional, se aproveitam da ignorância dos turistas que chegam a Lisboa para cobrarem muito mais caro pela “corrida”. A confirmar-se a distribuição do “bolo” de 17 milhões de euros, seria escandaloso.
A propósito, seria muito interessante saber quantos dos taxistas que se manifestaram nas ruas de Lisboa, Porto e Faro, nesta sexta-feira, dia 29 de abril, não utilizam o WhatsApp, a aplicação que permite telefonar de graça pela Internet – para bem dos consumidores e para ruína do negócio das chamadas telefónicas. Talvez uma pesquisa revelasse um resultado surpreendente.

VOLTAR