Dilma Rousseff Comunicação Integrada Luís Paulo Rodrigues
Comunicação Política
30-08-2014

O papel das "selfies" na interação e na proximidade com os eleitores

LUÍS PAULO RODRIGUES

As “selfies” de Dilma Rousseff fazem furor na campanha eleitoral brasileira. Onde vai, a recandidata à Presidência do Brasil deixa-se fotografar ao lado de toda a gente: crianças, idosos, operários, enfim, ao lado de quem aparecer com um telemóvel no ponto de captar um autorretrato.

Sabendo que tem um alto índice de rejeição nas pesquisas de opinião, o objetivo do marketing de Dilma é fazer passar a imagem de uma presidente humana para reacender os laços com o eleitorado.

As “selfies”, ou autorretratos, em português, que correspondem aos autógrafos de antigamente, demonstram a importância cada vez mais crescente da imagem sobre o texto. Nestas eleições brasileiras, elas são um elemento novo de comunicação política.


Marina Silva com os eleitores no Aeroporto de Ribeirão Preto

Esta semana, no âmbito das suas ações de campanha, Marina Silva, candidata do Partido Socialista Brasileiro (PSB), desembarcou no aeroporto de Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo, num voo comercial.

Apesar de a organização da sua campanha ter colocado um veículo à sua espera na pista do aeroporto, Marina preferiu demorar mais tempo saindo pela área de desembarque comum. Ainda dentro do aeroporto, ela conversou e tirou fotos com eleitores, mostrando-se como uma mulher normal. Ela que, onde chega, tem fama de provocar um silêncio reverente e sepulcral. Mas uma campanha eleitoral faz milagres e, agora, tal como Dilma Rousseff, também Marina Silva aderiu às “selfies”.

Estas quebras “protocolares”, como podemos designar a interrupção do percurso de um político por causa de uma fotografia, têm muita força comunicacional. As “selfies” garantem proximidade e interação entre o candidato político e o eleitor. São, por isso, mais um instrumento de comunicação política que nenhum candidato político deve menosprezar.

Fartos de políticos importantes e muito distantes, mesmo quando não cumprem com a sua palavra, os eleitores são cada vez mais pessoas de corpo inteiro – pessoas potencialmente mais informadas ou com acesso a mais informação, pessoas que têm meios de produção e difusão de conteúdos, pessoas que pensam pela sua cabeça, que escrevem directamente ao político, que apreciam proximidade e interacção. Apreciam, no fundo, ser tratados como pessoas e não como meros votos que geram vitórias eleitorais e poder.

Não é por acaso que as quebras de protocolo do Papa Francisco são tão apreciadas, mesmo por aqueles que não são católicos. É que essas situações transmitem do líder da Igreja Católica a imagem de um homem normal, com quem podemos falar ou trocar um sorriso. Ora, ao contrário do passado, as pessoas deixaram de ser contemplativas e passaram a ser interactivas. Isso, que começou por acontecer na relação das pessoas com a arte, estendeu-se ao comportamento quotidiano.

Na era da informação digital em que vivemos, em que a imagem prevalece sobre o texto, em que a forma é mais importante do que o conteúdo e em que as reacções das pessoas comuns são instantâneas e públicas, as “selfies” – além de serem um elemento de difusão da imagem dos candidatos políticos nas redes sociais – apresentam-se como um elemento de comunicação capaz de humanizar os candidatos durante uma campanha. Em suma, as “selfies” são mais um instrumento de comunicação política que nenhum político deve menosprezar, pois têm o valor de ser uma imagem orgânica que o eleitor decide fazer, podendo divulgá-la publicamente, caucionando, assim, o seu apoio público a um candidato.
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